sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Orquestra de morcegos

Café da manhã à mesa, já é hora dele chegar. Depois de uma semana de trabalho forçado, em fim um dia de folga, e tudo será diferente, ele vai chegar cedo e curtir sua família.
Algumas horas depois, o otimismo deu lugar à incerteza. Não acredito que ele não virá cedo novamente.Não posso esperar mais, estou com fome, vou me alimentar.Ele não veio,mas deve ter acontecido alguma coisa, ele me prometeu que não iria mais chegar tarde. Vou ligar para saber o que aconteceu. Meu Deus ninguém atende. Não há de ser nada, vou preparar o almoço, porque vai chegar com fome, e então aproveitaremos para curtir a tarde juntos. Após o almoço esfriar, a constatação. É, ele não vem,deve estar por ai, aprontando das suas.
Alheio a tudo que acontecia com ela, ali estava eu novamente, enchendo a cara com meus amigos em uma mesa de bar. Afinal de contas ninguém é de ferro, depois de uma semana estressante, nada melhor que uma rodada de cerveja com os amigos, e um bom papo para relaxar. Cerveja vai, cerveja vem, papo vai, e a saideira não vem.O que vai,com muita pressa e sem avisar, são as horas. Quando percebo o sol já passou para o outro lado. Do nascente, se aproximando ao expoente. Quando resolvo olhar no celular para observar as horas, a surpresa dupla. Já estava se aproximando das quatorze horas, e varias mensagens de chamada não atendida. Mais uma vez eu teria sido cruel e covarde. No dia da minha folga, eu deveria estar em casa dando o carinho que minha família merece, e deixo minha esposa na mão a ponto de ligar,vinte, trinta vezes, sem nenhuma resposta. O sentimento de remorso era instantâneo, estava na hora de ir embora. Ô  baixinho pendura nossa conta ai, dia cinco a gente acerta ( afinal de contas nós eramos da casa, pelo menos duas vezes por semana, passávamos por lá para tomar uma).
No caminho para casa, o mau estar devido ao alto teor alcoólico no sangue, era inevitável. Mas a consciência  do ato covarde e terrível que cometera, brigava, com o sentimento de justiça do outro lado. (o lado da irracionalidade) Espera ai pô, ela não tem do que reclamar, não está faltando nada em casa, trabalho igual a um escravo e não tenho direito de me divertir?
Por outro lado sabia que quando chegasse em casa, a coisa iria esquentar, ela iria falar tanto... Mas estou errado e vou ficar na minha. Chagava em casa tão calado, parecendo um cordeiro a caminho do sacrifício...
Então ela começava a descarregar toda a sua ira, e eu calado, ela começava a falar mais e mais... Então o cordeiro, se irritava com as verdades, e com algumas outras inverdades, que ele não tinha como provar, por estar errado, e se transforma em lobo. Abaixando o nível da discussão para não sair por baixo. E no auge do machismo. Após uma discussão ferrenha, em que ela, pela enésima vez, me mandou embora, porque não precisava de um marido irresponsável. Eu fiz minhas malas, e fui morar no porão da minha casa, que estava em construção. E ali fiz companhia para os ratos,baratas, e outros insetos peçonhentos por um ano e meio.
O orgulho no meu coração era tão grande que, mesmo junto a todos estes insetos e animais peçonhentos, e uma orquestra de morcegos que cantavam a madrugada toda, e todas as noites que dormi ali, eu me recusava  a voltar para casa. Afinal de contas ela que tinha por várias vezes me mandado embora. Então  achava que ela que tinha que pedir desculpas para mim. Porém todas aquelas noites, mau dormidas, ao som da famosa orquestra, me fizeram refletir que eu estava errado. Que se ela me mandou embora, na verdade, queria colocar medo em mim, medo de perder toda a minha família, de perde-la, e eu ao contrario, tinha entendido tudo errado, achava que estava me afrontando, me desafiando.
Este tempo todo morando no porão gelado, e sem condições higiênicas adequadas, não fariam eu mudar de opinião, mas o medo de perde-la definitivamente, e também perder o respeito dos meus filhos me amedrontavam muito mais do que aquele som horrível de morcegos cantando, dando a sensação de que a qualquer momento iriam sugar meu sangue até a morte...Então resolvi deixar o orgulho de lado e me humilhar para aquela que com certeza me amava, mas magoada vivia sua vida em casa fechada, com nossos filhos, vivendo a desilusão de um casamento fracassado até então.
Conversamos, nos acertamos, e voltamos a viver juntos com os votos de que a partir de agora, só a morte nos separe, porque o que Deus uniu, não separe o homem...

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