Sujeito cômico, sistemático, cheio de superstições e manhas, mas no geral um cara legal. Quando estava de folga do serviço, religiosamente colocava sua bandana na cabeça e embarcava no seu Gurgel rumo à baixada santista. Adorava cair na estrada com seu carro antigo, mas bem conservado, seu hoby predileto.
No serviço, operário padrão, sempre um dos primeiros a chegar. Gostava de chegar adiantado para se trocar com tranquilidade e montar seu kit "sobrevivência". Dentro de sua mochila itens dos mais variados, biscoito de água e sal com gengelim , pão francês, patê de alho, café solúvel, leite em pó, radio a pilha, e o inseparável binóculo ( que segundo ele era oriundo do exercito russo, com longo alcance e visão noturna). Quando a maioria do pessoal chegava, ele já estava pronto e se direcionava para o seu posto de serviço, porque ele detestava a bagunça que o pessoal fazia quando se reunia naquele vestiário.
Sempre escalado em postos estratégicos, porque era um cara antigo no emprego e além de tudo dificilmente sentia sono, era um cara sempre vigilante. Mas mesmo que sentisse sono não teria como cochilar, porque nunca se trabalhava sozinho em postos estratégicos. Bom para quem gosta de trocar ideias, de conversar, mas quando o movimento estava tranquilo, ele gostava mesmo era de ficar focando seu binóculo e observando o que acontecia nos entornos daquela empresa. Com aquele instrumento, ele ficava horas, observando tudo que se passava por ali. quando uma lampada se acendia em alguma casa perto dali, ele logo direcionava seu binóculo russo, para ver se dava sorte de encontrar alguma "dona" generosa se trocando com a janela entreaberta, e praticamente não havia um dia sequer, que ele não tivesse uma historia para contar.
Aquele ritual, causava a curiosidade dos seus colegas de trabalho, e algumas raras vezes, ele emprestava seu binóculo para eles matarem a curiosidade. Não demorou muito, e uma boa parte dos seus colegas de trabalho começaram a adquirir aparelhos semelhantes (porém não russos, mas do Paraguai) para compartilhar desta pratica que divertia as madrugadas monótonas. Atividade que os mantinham acordados e alertas, tanto no seu trabalho quanto no que acontecia nas redondezas dali.
E o incrível é que as pessoas, mesmo estando em casa, de folga do trabalho, longe de obrigações... Seguem rituais e rotinas, que não quebram nem por decreto, e assim se tornam vulneráveis, e acreditem sempre vai ter alguém a posto esperando o momento certo para se deliciar ou se divertir vendo e compartilhando, daquilo que talvez, não lhe fosse de direito. Mas por descuido, ou por generosidade de alguém, se torna público. E com certeza isso será o combustível para que no dia seguinte, no mesmo bat horário, alguém ansioso, estará esperando para "invadir privacidades"...
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