segunda-feira, 18 de junho de 2012

Estes não viveram

Não viveram os que ficaram corroídos pela inveja do sucesso de alguém e se encheram de despeito. Não viveram os que sempre entupiram os seus corações com o mais monstruoso dos ódios irracionais. Não viveram os que nunca sentiram a presença silenciosa e emocionante da saudade. Não viveram os que procuraram corremper a pureza, a inocência, as virtudes, esmagando beija-flores, lírios, camélias e rosas. Não viveram os que não acariciaram uma criança, não a beijaram, não brincaram com ela, ou lhe negaram um sorriso, uma palavra de ternura. Não viveram os que, em nome da verdade, destruíram estupidamente as ilusões das almas ingênuas e sonhadoras. Não viveram os que aplaudiram com cinismo o erro, o vício, a injustiça, o roubo, o crime, a venalidade, a corrupção, a prostituição. Não viveram os que não amaram a cultura, a música, a poesia, a obra de arte, a beleza. Não viveram os incapazes de ter pena de um infeliz, de um desgraçado, e que transformaram Os seus corações em barras de gelo. Não viveram os egocêntricos, que se preocuparam apenas com seu bem-estar e fizeram de suas vidas uma auto-idolatria, sem ligar para mais ninguém. Não viveram os jovens que zombaram dos velhos, e os desrespeitaram com a impaciência, a injúria, os cretinos atos de grosseria. Não viveram os mesquinhos, que se mostraram pequeninos no modo de agir em relação aos nossos semelhantes e jamais tiveram um gesto de nobreza, de altruísmo, de desprendimento. Não viveram os que só queriam "relaxar e gozar" e que acharam que o principal é encher o estômago, dormir bem, defecar bem e ter voráz e insaciável apetite sexual. Não viveram os que só se preocuparam com os bens materiais, em detrimento dos bens espirituais, e que converteram seus corações em metálicas caixas registradoras , cujo som é assim: dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro, dinheiro. Não viveram os que, praticando uma ação vil, traíram a confiança de Quem neles acreditava e assim emporcalharam as suas almas, cobrindo-as com fedorentos manto de excremento. Não viveram os falsos, os hipócritas, que Cristo comparou a "sepulcros brancos, caiados por fora, mas cheios de ossos de mortos e de podridão por dentro". Não viveram os que foram racistas, preconceituosos, e que por orgulho tolo, por se sentitrem superiores, humilharam e maltrataram pessoas. Não viveram os que não sentiram a dor indescritível de perder, levada pela morte, uma pessoa querida, pois como disse o poeta Francisco Otaviano, em versos nos quais a verdade resplandece: Quem passou pela vida em branca nuvem e em plácido repouso adormeceu, quem não sentiu o frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu, foi espectro de homem, não foi homem, só passou pela vida, não viveu. Meus amigos, viver é emocionar-se, no bom sentido, é sentir que temos alma, amor, sonhos, esperanças, coração, lágrimas, bondade, piedade, saudade. Quem não Não pussui tudo isto não está vivo, é como um campo desprovido de flores, árvores, pássaros, sombras aconchegantes, só habitado por vermes, ossadas, escorpiões, mortíferas cobras geradas na região do horror e do espanto. Texto do escritor e jornalista Fernando Jorge .

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