Aqui relato algumas historias veridicas,outras fictícias de forma simples.Não sou escritor,poeta ou algo do gênero,mas gosto de escrever.Reconheço não haver muita concordância na ortografia dos meus relatos,mas ésta foi a melhor forma que encontrei para contar,algumas histórias e pensamentos que me vem à mente.
domingo, 27 de maio de 2012
A acompanhante
Noite fria, madrugada sombria e nebulosa, movimento fraco... Definitivamente aquela noite seria longa para Scarlath, -Acostumada a fazer o seu salário de forma rápida, a tempo de pegar o último ônibus destino bairro e ainda aproveitar um pouco da escuridão da madrugada para tirar um cochilo antes que seus dois filhos acordassem- já estava chegando a hora do negreiro passar e ainda não tinha atendido nenhum cliente importante, certamente teria que fazer cerão... Bêbados e andarilhos circulavam pra lá e pra cá falando sozinho ou gesticulando, até a polícia resolveu atrasar o lado de Scarlath a botando pra correr... Refeita do susto, trocou de ponto, quem sabe as coisas não melhoravam? Mas nada... Percebendo que teria que varar a noite pra ver se aparecia um cliente carente dos seus serviços, Scarlath liga em sua casa para avisar ao seu marido que sua patroa havia piorado de saúde e que não poderia voltar pra casa naquela noite, pois a acompanharia ao hospital... (para o seu marido ela trabalha de acompanhante de uma senhora enferma)
-Betinho da pra você colocar as crianças na perua escolar amanhã cedo? Porque dona Carmelita piorou e, eu vou ter que passar à noite com ela no hospital.
-Claro querida! pode deixar comigo, coitada da dona Carmelita né, sempre tão bondosa,tão dedicada, vai lá filha, e não esquece de mandar meus votos de melhora para ela, apesar de ela ser surda e muda, mas fala pra ela na linguagem dos sinais que eu espero que logo melhore.
-Pode deixar Betinho, eu digo sim...
Betinho no começo não gostava muito que sua esposa dormisse fora de casa, mas como dona Carmelita era uma patroa muito boa e sempre pagava a diária de Scarlath em dinheiro e nunca atrasava, ele não podia criar causo, dona Carmelita sempre lhe mandava recordações e entendia perfeitamente o fato de Betinho não poder trabalhar, por causa do nervo ciático que doía muito...Como criar causo com uma patroa destas? não tem boca pra nada, vira e mexe presenteia Scarlath, sempre dá uma gorjeta a mais quando ela precisa passar do horário de trabalho...
Assunto resolvido com o Betinho, garantia de que as crianças não faltariam à escola e que sairiam de casa bem agasalhados e alimentados, (Betinho não gostava muito de trabalhar e, adorava uma birita, e quando bebia se tornava meio violento, mas era um ótimo pai) Scarlath agora está mais tranquila para dedicar-se ao trabalho retoca a maquiagem e recompõe a postura, a lida continua...
domingo, 20 de maio de 2012
Inversão de valores
Nascido numa época em que muitos pais se espelhavam em personalidades estrangeiras para dar nomes aos seus filhos, Richard vivia uma realidade muito distante da de uma celebridade. Casas pequenas, sem acabamento adequado, ruas estreitas, esgoto a céu aberto... Estes eram apenas pequenos detalhes no cotidiano daquele garoto acostumado a vivenciar coisas horríveis acontecerem quase que diariamente nas proximidades de sua casa. Quantas vezes presenciou incursões de policiais fortemente armados morro acima, vasculhando e invadindo casas, algumas vezes usando de groceria e violência -não raras vezes invadiam casas de gente de bem, dando a entender que só pelo fato de morarem na favela estas pessoas se tornavam automaticamente suspeitas-. Também não raras vezes presenciou os policiais no estrito dever de suas funções, serem recebidos a tiros e na ação de auto-defesa revidarem à altura, e sempre quando isso acontecia, corpos esticados pelo chão era garantido. Richard se angustiava, e não entendia porque tudo isso acontecia, justamente ali aonde ele morava? Onde também viviam seus melhores amigos, porque eram impedidos de brincar livremente nas ruas, ou na área de lazer? Sendo que ali eram os únicos lugares úteis e com espaço para se brincar, já que dentro de casa o espaço era reduzido? Ele se revoltava porque todas as vezes que isso acontecia, seus pais o trancafiava como se ele tivesse feito alguma coisa de errado, e o privavam de exercer o seu pleno direito de brincar com seus amigos. Certa feita, depois de mais um dia de alvoroço, e logo após ouvir de seus pais, pela centésima vez a ordem de não sair de casa, Richard os questiona: porque toda vez estes policiais vem aqui para perseguir a nossa comunidade? Porque perseguem tanto o Cabelo e seus amigos? Logo o Cabelo que tanto nos ajuda, e tanto faz por nossa comunidade? Só porque ele é rico e foi ele quem fez a nossa praça de lazer, e sempre distribui alimentos para o nosso povo? Isso é inveja né pai? Nenão mãe? Diante do silêncio dos seus pais ele conclui. Eu sabia, quando eu crescer não quero ser um policial...
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Clássico na várzea
Era para ser apenas um jogo amistoso, mas foi só a bola rolar para o bicho pegar.
De um lado o Renascencia, que está de volta os campos da várzea há um mês depois de ficar parado há um ano, é um time que está se reformulando.
Do outro, o Scala Veteranos que vem jogando junto há algum tempo. Escalado com Fernando, Carlinhos, Eduardo, Ditão, Valmir, Divanei, Tata, Negão, Fábio, Cristiano e Balú, o Scala esperava seu jogo, mas o adversário da liga não compareceu.
Para que ambos não ficassem sem jogar, a organização do evento resolveu remanejar e promover esse amistoso entre as duas equipes.
Com jogadores a menos o time do Scala cedeu quatro jogadores do seu elenco para o Renascência que pegou mais dois jogadores de um outro time que jogaria mais tarde.
Times escalados, todos conhecidos de longa data...
O árbitro, outro conhecido, deu inicio à partida. E, logo nos primeiros minutos de jogo, a constatação que não seria apenas um jogo amistoso e tranquilo como todos esperavam.
O atacante do Scala, Balú, pega a bola na intermediária e passa por três defensores do Renascência. Quando se preparava para enfiar a bola para as redes, o outro atacante, Cristiano, apareceu completamente impedido e tomou a frente na afobação de fazer um gol contra seu ex time. O árbitro não teve dúvidas e anulou a jogada.
O Renascência, após o susto inicial, começou a por a bola no chão e tocar de pé em pé envolvendo completamente o meio de campo do Scala. Quando o Escala chegava, era sempre contido pela zaga bem postada do Renascência.
A afobação dos atacantes do Scala. Balú estava segurando demais a bola e o Cristiano preocupado em sair da marcação forte que lhe fora imposta, além, é claro, de rivalizar com seus ex-companheiros de equipe, que o desconcentrado do jogo.
Então o Renascência que já tinha o jogo na mão, começou a pressionar os meias e os volantes do Scala. Mais jovens e velozes se antecipavam e tomavam a bola com facilidade. E tome contra-ataque em velocidade. Não demorou muito para sairem os gols. Logo após uma boa saída de bola, o Baby fez um lançamento nas costas do lateral esquerdo que falhou na esperando a bola sair. O atacante tomar-lhe a frente e cruzou rasteiro na entrada da pequena área para uma pancada seca do atacante que abriu o placar sem chances para o goleiro.
Enquanto a molecada do Renascência ditava o ritmo do jogo, o Moisés, o zagueiro deles provocava não só o Cristiano, mas a todos os jogadores do Scala. Como se fosse um argentino catimbeiro, xingava, caia, fazia faltas e pressionava o árbitro que fingia não escutar. Resultado: um, dois, três a um pro Renascência no primeiro tempo e os jogadores do Scala, quase todos, muito nervosos com o Moisés.
Começou o segundo tempo e o Scala precisava reagir para não tomar uma histórica goleada. O Renascência voltou pro jogo com outra postura, achando que o jogo estava ganho. Parecia esquecer a história e o retrospecto de superação do Scala Veteranos que já buscou resultados adversos em que a derrota era iminente, mesmo quando a diferença era de dois e até quatro gols.
O Renascência começou a tocar a bola de lado, a dar passes de três dedos, tocar a bola pra um lado olhando pro outro. Essa displicência foi a deixa para o Scala que melhorou seu posicionamento e já não dava mais tantos espaços, reagir. Seus laterais e volantes já não estavam dando mole e marcavam forte. O lance mais ríspido do jogo ficou por conta do lateral esquerdo Walmir e o meia do Renacência. Ambos com entradas fortes. Num desses lances ouve um bate boca entre ele e o monstro sagrado, o volante Tata, que ao tentar apaziguar foi ofendido e tomou a discussão para si. Por muito pouco não saíram na mão. Foram contidos pelos mais tranquilos e pelo árbitro.
O fato foi que a molecada do Renascência não estava preparada para uma marcação forte e foram deixando espaço para que os meias e atacantes do Scala tomassem as rédeas do jogo no segundo tempo, e sumiram do jogo.
Numa jogada de velocidade, o Valmir tomou a bola do zagueiro Moises e fez o segundo gol dos veteranos, aumentando o ânimo de todos. Quando tudo parecia mais tranquilo o árbitro parou uma jogada em que o Cristiano ganhava da zaga. O atacante protestou com xingamentos e acabou expulso.
Mesmo com um homem a menos o Scala jogava um belo segundo tempo. Empatou e virou o jogo com Balú (de novo) e Tuca.
O jogo pegou fogo. O meia que havia batido boca com o volante Táta, o pegou em uma jogada e cravou a chuteira em sua canela, mas o árbitro não deu nada. Por sorte ele fez falta violenta no Valmir e foi expulso.
Logo após a expulsão, o Renascência chegou ao empate com um gol de penalti. Mas o dia era do Scala que em mais uma bela jogada do Valmir, fechou o placar: Scala 5x4 Renascência. Foi mais uma virada histórica.
E foi só ter o apito final que tudo voltou a ser amistoso.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Sonhos
Todos os sonhos daquele menino se resumiam em poucas coisas. Ter uma bicicleta, uma bola de futebol, um kichute para calçar...
Muito pouco, mas não deixava de ser sonho... Sonhos de criança, são apenas sonhos, e não obsessão...
Enquanto nada acontecia... Tudo se fazia acontecer na vida daquele garoto, matuto, sereno... Não tem a bola de capotão, mas tem a feita de meias, e panos enrolados no saco plástico e bem amarrados com barbante. Não seria por isso que deixaria de fazer seus gols no campinho. Onde obrigava seus irmãos, hora um, hora outro, a ficar no gol aguentando aquela bola irregular, queimar seus braços com as bicudas que dava, de dedão, com seus pés descalços...Não tinha a bicicleta. E dai? Ele sonhava com ela, mas os carrinhos de rolemã por hora substituía o desejo de sentir a brisa dos ventos batendo em seu rosto liso como bundinha de bebê.
A bola de meias e panos e o carrinho de rolemãs não faziam ele esquecer dos seus sonhos, mas o fazia feliz. Com aquela bola irregular e dura, contabilizou: superou Pelé o rei do futebol, fez muito mais de mil gols... No carrinho de rolemãs também perdeu as contas de quantos arranhões e tombos teve...
O garoto crescia tão rápido quanto uma massa de pão ao forno. E conforme crescia, também cresciam e modificavam seus sonhos. A bicicleta, a bola de capotão, já havia conquistado há muito tempo, e o kichute? Ele nem acreditava que um dia sonhou com aquilo, e que, quando realizou, muitos já jogavam bola com chuteiras iguaizinhas às dos jogadores da televisão...O garoto agora crescido. Seu rosto já não era mais tão liso como bundinha de bebê (agora mais parecia uma lixa). Seus sonhos não são tão simples como outrora, mas ele continua sonhando...
Pena que agora ele não consegue, como naquela época, se adaptar facilmente, às alternativas que a vida o dá. E por vezes se angustia, não sabendo mais discernir, o que é sonho, e o que virou obsessão. Por vezes se pega sonhando novamente. Sonhando em voltar a ser e pensar como aquela criança que foi, sem se desesperar em tornar sonhos em realidade... E viver a sua realidade como se fosse um sonho realizado, vivendo intensamente feliz simplesmente por existir. E por ser um sonho realizado pelos seus pais desde a concepção...
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